sexta-feira, 13 de agosto de 2010
O dia em que Serra perdeu a eleição
Por Eduardo Guimaraes
Na última segunda-feira, após a entrevista de Dilma Rousseff ao principal telejornal da Globo, escrevi sobre “O dilema do Jornal Nacional”. Seria o dilema de como tratar José Serra na entrevista que daria ao programa noticioso depois de o “casal-âncora” Willian Bonner e Fátima Bernardes ter sido rude com a candidata do PT. Escrevi, então, que o JN teria que optar entre duas escolhas.
A primeira escolha seria a de tratar José Serra com suavidade para não prejudicá-lo fazendo questões para as quais qualquer resposta que desse seria ruim, como, por exemplo, perguntá-lo sobre contradição idêntica à que foi apontada contra Dilma, sobre seu partido estar aliado com partidos e caciques políticos que o PT, outrora, só não chamou de santo.
No caso de o JN fazer essa escolha, teria que perguntar a Serra sobre o que há de mais gritante em suas alianças, como o tucano se aliar a Orestes Quércia, pivô da saída de Fernando Henrique Cardoso, de Mário Covas e do próprio Serra do PMDB para fundarem o PSDB. Para fazer uma entrevista honesta, também haveria que perguntá-lo sobre o “mensalão” do DEM e sobre José Roberto Arruda, expoente do partido que indicou o vice de Serra e que chegou a ser preso e depois cassado por corrupção.
A outra escolha possível ao JN seria a de fazer o que efetivamente fez, ou seja, montar um teatrinho com perguntas e respostas obviamente ensaiadas entre o “casal-âncora” e o entrevistado tucano, com Willian Bonner se perdendo em meio a uma torrente de pedidos de “desculpas” ao entrevistado por ameaçar interrompê-lo. O teatrinho visou fazer parecer que Serra fora tratado com dureza igual à que foi usada contra Dilma.
O Jornal Nacional fez a segunda opção. Contudo, mal treinados em atuação teatral, Bonner e Bernardes foram tão óbvios na suavidade das perguntas e na omissão das questões mais espinhosas contra Serra, e tão escancarados ao manter o “mensalão do PT” no ar nas entrevistas com os três principais presidenciáveis, que o assunto partidarismo do telejornal chegou até às páginas da imprensa amiga, como em matérias na Folha de São Paulo levantando a polêmica.
Apesar de a Globo ter achado que a sua encenação seria uma jogada genial, as críticas foram tão vastas e tão variadas que até Roberto Jefferson, presidente do PTB e aliado de Serra, como retaliação por ter sido usado pelo JN no lugar de Quércia reconheceu que o telejornal favorecera seu candidato a presidente, o que obrigou a emissora a emitir nota oficial desmentindo que tenha favorecido alguém.
A mera leitura da transcrição das entrevistas dos candidatos não permite identificar favorecimentos. O JN perguntou a Dilma e a Serra sobre temas parecidos – sobre suas alianças, por exemplo, apesar de ter escolhido questionar a aliança errada de Serra, pois, como já disse, sua maior contradição é estar aliado ao pivô de sua saída do PMDB para fundar o PSDB.
De fato, a estratégia da Globo faz algum sentido porque a quase totalidade dos brasileiros não tem informações como essa que acabo de mencionar e, assim, não captaria diferença de tratamento entre o tucano e a petista.
Ocorre que há um fator subjetivo ao qual a “inteligência” global não deu atenção. Clicando aqui, o leitor será enviado a matéria do portal de internet da Globo contendo o vídeo e a transcrição da entrevista de Dilma ao JN. Clicando aqui, encontrará o mesmo em relação a Serra. Para os menos atentos, vale ler as transcrições das entrevistas e, depois, assistir aos vídeos, porque contêm um dado que aquelas transcrições escondem.
Há uma capacidade que os desprovidos de conhecimento político e até de instrução têm de sobra, ou seja, a capacidade natural das pessoas de notarem aspectos subjetivos como o tom de voz e a linguagem corporal dos entrevistados, quando tais aspectos são gritantes.
Faça um teste, leitor: retire o som dos vídeos das entrevistas de Dilma e de Serra e aprecie o balé subliminar das expressões faciais e dos gestos dos atores. Depois, ouça a entrevista sem ver as suas imagens. O que você captará, se for suficientemente honesto consigo mesmo para se abrir à realidade mesmo que ela contrarie as suas idiossincrasias, será a diferente disposição dos entrevistadores com cada entrevistado.
PSDB e Globo, de um lado, e o PT, de outro, fazem apostas, respectivamente, sobre a incapacidade e a capacidade do público. Por mais que tucanos e mídia assumam uma atitude de quem conseguiu o que pretendia, trata-se de uma aposta da qual estamos longe de saber se realmente foi vencida pela coalizão conservadora.
Em minha opinião, a linguagem subliminar gritante de imagens e sons, a persistência no tema “mensalão do PT” nas três entrevistas de candidatos e a polêmica sobre a diferença de tratamento a Dilma e a Serra provaram que a Globo integra a campanha do tucano.
Embora ainda não se possa dizer quem está certo – se eu ou a Globo –, que fique registrado que considero a série de entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra como o momento em que o favorito da Globo e da grande mídia efetivamente começou a perder a eleição de forma irreversível, e no qual a emissora sepultou suas aspirações de se posicionar como “isenta”.
11 de agosto de 2010, data da entrevista de Serra ao JN, ainda será considerado o dia em que o tucano efetivamente perdeu a eleição presidencial.
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Serra tem sua vida aberta e não deve nada a ninguém, muito menos no que se refere a aliança com Quércia. Os dois já seguiram juntos em outros episódios políticos da história do país e se hoje decidiram se juntar, sinal de que têm maturidade política suficiente para esquecer as divergências do passado e unir forças pelo Brasil.Se a aliança promete trazer benefícios para todos os brasileiros, porque questioná-la em nome de uma rixa de mais de 20 anos? É bobagem!
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