quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Relação entre o DEM e o PSDB está cada vez mais desgastada
Daniela Almeida
Ivan Iunes
Falta de recursos, centralização excessiva de decisões estratégicas e crescimento da candidatura petista de Dilma Rousseff abalam a relação dos integrantes do PSDB e do DEM. Ontem, um José Serra (PSDB) irritado bem que tentou varrer para debaixo do tapete a crise entre as duas legendas: “O ti-ti-ti não acaba”, reclamou, durante visita a São Bernardo do Campo (SP). Mas o descompasso vai além de uma simples frase de efeito. Movimentações e declarações recentes evidenciam que os dois grupos aliados já não falam o mesmo idioma. Pior, o volume das reclamações cresce a cada dia. O cardápio do desgaste seria tema de conversa entre o presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra, Sérgio Guerra, e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, escalado para tentar contornar as desavenças. O encontro estava marcado para a noite de ontem.
Os ruídos de comunicação entre tucanos e democratas tiveram início nas composições regionais, mas já colocam Serra e o presidente do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), em mesas distintas. Em pelo menos cinco estados (veja quadro), as duas legendas não se entendem quanto aos rumos na campanha. Em Sergipe e no Rio Grande do Sul, a falta de sintonia, mais do que explícita, é oficial. O quadro se agravou ainda mais com o baixo repasse de recursos da campanha nacional para os estados. Diante da reclamação de Fernando Gabeira (PV), de que daria a mesma “banana” depois das eleições, dispensada a ele agora pelos aliados, Maia recomendou que ela fosse transferida a Serra, pois ele não teria prometido nada ao candidato verde. A fala irritou o presidenciável tucano.
Embora tenha irritado especialmente Serra, os efeitos da frase foram além. Ela atingiu a campanha no Rio de Janeiro e reforçou a reclamação recorrente do DEM de abandono do aliado nos estados em que lidera a cabeça de chapa. “Toda a oposição está reclamando é da campanha milionária do outro lado. A campanha estadual dos nossos adversários é mais forte, especialmente no Nordeste. Em todos os lugares, as pessoas estão reclamando, pedindo mais recursos, mas ainda não temos como combater isso”, admite Guerra.
Para Sérgio Guerra, existe um exagero nas reclamações dos aliados, que teriam sido prejudicados apenas na composição eleitoral no Pará, onde Valéria Pires Franco (DEM) não teve a legenda ao Senado. Em contrapartida, os tucanos teriam sacrificado aliados em Santa Catarina, na Paraíba, no Espírito Santo, em Sergipe e no Rio Grande do Norte em favor dos democratas. “Chegamos a fazer uma intervenção no Rio Grande do Norte para colocar um aliado que favorecesse o acordo com o DEM”, ressalta Guerra. O candidato ao Senado pelo Paraná, Gustavo Fruet (PSDB), admite que há uma tensão entre os aliados, especialmente por conta dos repasses financeiros. “Todos nós enfrentamos problemas, até porque a arrecadação está muito aquém do previsto, mas não adianta sair reclamando. Em campanha é difícil manter a sintonia o tempo todo”, minimiza Fruet.
Outra reclamação recorrente dos aliados é a total inoperância do conselho político montado por Serra, composto pelo próprio candidato e os presidentes nacionais das legendas aliadas (PSDB, DEM, PPS, PTB), além de Aécio e Fernando Henrique Cardoso. Para tentar controlar o incêndio na campanha tucana, Guerra pediu pessoalmente que o ex-governador mineiro intercedesse perante a Rodrigo Maia. Hoje, o presidenciável tucano estará no Rio de Janeiro para dar entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. O esforço seria para que a viagem incluísse uma conversa apaziguadora entre Serra e o presidente do DEM, mas a agenda ainda não foi confirmada. À imprensa, o democrata desencorajou a viagem.
Situação atual
Confira como andam os rachas entre o DEM e o PSDB nos estados:
Bahia
O deputado federal Jutahy Júnior (PSDB) nunca foi ligado aos aliados do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. A morte do senador apazigou as desavenças, mas não o suficiente para o parlamentar se engajar na campanha de um dos herdeiros do carlismo. O candidato a governador Paulo Souto (DEM) reclama da falta de empenho de Jutahy.
Pará
Vice-presidente do DEM, Valéria Pires Franco tinha pretensões reais de concorrer ao Senado. Sonhava ainda com a vice de José Serra (PSDB). Por conta das composições regionais e nacionais, os dois planos acabaram naufragando.
Paraíba
Embora o PSDB esteja fechado com o DEM pela candidatura de Ricardo Coutinho (PSB) no pleito local, o senador tucano Cícero Lucena tem feito movimentos claro em direção a José Maranhão (PMDB). Oficialmente, o parlamentar mantém o apoio ao socialista, mas liberou o suplente, o empresário João Rafael de Aguiar, para embarcar na campanha de Maranhão.
Rio Grande do Sul
A governador Yeda Crusius cortou dobrado por quatro anos com o vice Paulo Feijó, do DEM. O segundo nome do Palácio Piratini liderou um movimento de cassação da titular. A batalha desgastou a relação entre os dois partidos, que romperam oficialmente.
Rio de Janeiro
Tucanos e democratas fluminenses simplesmente não se bicam, e isso desde o início das eleições. A escolha de Índio da Costa (DEM-RJ) como vice de José Serra fez políticos locais do PSDB, como Márcio Fortes e Andrea Gouvêa Vieira, criticarem publicamente o partido. Para azedar ainda mais a relação, os tucanos ainda se uniram ao candidato do Partido Verde ao governo fluminense, Fernando Gabeira, em uma tentativa frustrada de barrar o nome de Cesar Maia (DEM) ao Senado. Com as duas legendas rachadas no estado, falta tudo para a campanha presidencial e para a de Gabeira no Rio. De recursos a materiais de mobilização.
Sergipe
O candidato tucano ao Senado, Albano Franco, sempre preferiu reforçar a campanha à reeleição do petista Marcelo Deda do que apoiar João Alves Filho (DEM). Por conta do movimento de Franco, o PSDB estava pronto para deixar o aliado à deriva. Uma intervenção do diretório nacional garantiu a legenda no palanque de Alves Filho — e minutos preciosos no horário eleitoral. O acordo, contudo, não dobrou Franco. O tucano faz campanha sozinho.
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