segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pela distensão política no Brasil



A despeito de que ninguém ganhou ou perdeu nada ainda nas eleições deste ano, quero encaminhar uma discussão de caráter absolutamente pós-eleitoral na esperança de que, sendo apresentada agora, volte à pauta assim que vencedores e vencidos já forem conhecidos.

Duvido de que qualquer observador sério, sensato e capaz, sabendo dessa verdadeira guerra que se estabeleceu entre o governo, de um lado, e a oposição e a imprensa do outro discorde de que essa situação tem sido ruim para o país.

Talvez alguma alma abençoada se incumba de apurar quanto tempo, dinheiro e energia o Congresso perdeu com CPIs inúteis, evocadas sob razões estritamente político-partidárias, em uma esperança vã da oposição de que seria possível paralisar o país até que ela retomasse o poder no âmbito de um fracasso político-administrativo do governo de turno.

A sociedade perdeu com a derrubada da CPMF no Congresso por ação daqueles que a criaram e que hoje, na oposição, decidiram dificultar a ação do governo na saúde. Perdeu durante a crise econômica internacional, que foi mais grave do que deveria devido ao alarmismo oposicionista. Perdeu com os problemas de saúde criados pelo alarmismo midiático de oposição sobre epidemias inexistentes…

A lista é longa. E enumerá-la só faz acirrar os ânimos.

Pelo lado do governo, esse também perdeu muito. Vários de seus membros foram defenestrados pela guerra política, dificultando a administração do país e fragilizando a estrutura governamental para exercê-la.

Todavia, oposição e mídia também estão pagando um alto preço pela aventura em que nos meteram a todos. Além de não conseguirem derrotar o governo, o mais provável é que tanto uma quanto a outra terminem o processo eleitoral de 2010 bem menores do que começaram.

Os partidos de oposição, por encolhimento de uma magnitude que chega a preocupar por sugerir a possibilidade de o sistema de pesos e contrapesos necessário a uma democracia desequilibrar-se a um ponto anômalo, com uma oposição desacreditada, debilitada e encolhida além do que deve desejar o cidadão responsável.

A mídia, obviamente que jamais aceitará o fato de que perdeu praticamente toda a credibilidade, ao ponto de estar sendo solenemente ignorada em suas tentativas de guiar a vontade do eleitorado. Foi assim com Lula, primeiro, mas Folhas, Globos, Vejas e Estadões disseram que com Dilma seria diferente. Não foi, o que prova que o descrédito foi generalizado.

Duvido de que essa guerra política esteja beneficiando a alguém. Mesmo com a vitória de Dilma, seu governo terá que enfrentar mais quatro anos de sabotagens, escândalos artificiais, sobressaltos incessantes como tem sido nos últimos anos.

Penso que todos os atores citados precisam se reinventar, reciclarem-se nos seguintes aspectos:

1 – O governo precisa ficar mais atento a aloprados e espertinhos, pois alguns dos fatos denunciados pela mídia e pela oposição realmente existiram, ainda que de forma muito diferente da que disseram.

2 – A oposição precisa desistir de tentar sabotar o governo, de tentar inviabilizá-lo, de tentar fazer o país ir mal e de fazer acusações irresponsáveis para se concentrar em elaborar um projeto legitimamente seu e com ele tentar voltar ao poder.

3 – A mídia, por fim, precisa simplesmente fazer jornalismo e se afastar de grupos políticos. Uma imprensa equilibrada, fiscalizadora, que não poupe ou fustigue facções seria de uma utilidade imensa para a sociedade.

Antes que me chamem de ingênuo, de sonhador ou até de delirante, peço que levem em conta o fato incontestável de que ao fim do processo eleitoral deste ano a oposição midiática terá pago um preço que dificilmente deixará de fazê-la refletir. E, pelo lado petista, já estarão pensando em como será duro governar sob a artilharia dos últimos anos.

Estarão criadas, pois, a condições para que o Brasil entre em uma nova etapa de seu amadurecimento político. Tenho certeza de que a recente manifestação de Dilma Rousseff no sentido de “estender a mão” aos vencidos esteja se baseando nas premissas aqui elencadas.

Eduardo Guimarães

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