domingo, 18 de abril de 2010

Após 21 anos, Lula vive primeira eleição como "protagonista", e não como candidato



Mesmo em lados opostos, PT e PSDB querem se beneficiar da alta popularidade do presidente
Marina Novaes, do R7


Embora não participe como candidato nas eleições para a Presidência em 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá lugar de destaque durante a corrida pela sucessão, como já se nota na pré-campanha eleitoral.
Enquanto a pré-candidata do PT ao governo, Dilma Rousseff, se escora em seu “mentor” para decolar sua campanha, o pré-candidato tucano, José Serra, aposta na imagem “pós-Lula” e prega ser capaz de fazer mais.
Esta é a primeira vez desde o fim da ditadura militar em que o eleitor não terá a opção de marcar o nome de Lula nas urnas. Antes de vencer as eleições em 2002 e 2006, o ex-sindicalista havia disputado a Presidência outras três vezes: em 1989, quando perdeu para Fernando Collor de Mello, e em 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso venceu.
Não é para menos que petistas e tucanos tentam tirar uma “lasquinha” da imagem do ex-metalúrgico. Lula deixa o governo com aprovação recorde – 76% dos brasileiros aprovam seu governo, segundo pesquisa divulgada no fim de março pelo Datafolha. Segundo analistas ouvidos pelo R7, dificilmente os adversários de Dilma atacarão o governo atual, como observa o cientista político e professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Fábio Wanderley Reis.
- É imperioso para o PSDB evitar surgir como um partido anti-Lula neste momento, por isso já vemos a postura pós-Lula [adotada pelos tucanos]. Se você começar uma campanha assim, fica difícil conquistar o eleitorado que foi atraído pelos fatos positivos alcançados numa gestão com aprovação singular.
Enquanto o PSDB tenta provar que é uma alternativa melhor para dar continuidade ao governo atual, os petistas têm o desafio de transformar em votos para Dilma a aprovação de Lula, e atrair o eleitor lulista para a campanha petista, como observa o cientista político e diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo), José Álvaro Moisés.
- Se o PT conseguir mostrar que Dilma é a candidata do Lula, e provar que fará o mesmo governo, isso pode ser uma grande vantagem para o partido em relação ao Serra nas eleições.
O cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, concorda:
- Se o Lula não apoiasse [a Dilma], seria menos provável que o PT ganhasse as eleições. O grande pivô, o grande cabo eleitoral, o grande agente dessa eleição não é o PT, mas o Lula. Se o Lula apoiasse um outro candidato, um outro partido, talvez o candidato também tivesse chance.
Mito
Para Álvaro Moisés, a ausência de Lula nestas eleições será benéfica para o eleitor, que terá a oportunidade de analisar as propostas dos partidos que estão na disputa.
- O Lula se transformou em um mito popular tão forte que isso atrapalharia a capacidade que o eleitor tem de fazer escolhas racionais. Toda vez que se tem um mito disputando uma eleição, as pessoas pensam no caráter mitificado da figura, e não no que é importante para o seu futuro.
Pautados pelo peso de Lula nestas eleições, PT e PSDB – principais adversários neste pleito – devem travar um duelo entre o antes e o depois do ex-sindicalista, como analisa Dantas:
- O PSDB vai insistir na tese de olhar pra frente: o que será o Brasil daqui pra frente? [...] O PT pode contrapor isso com o bordão 'em time que se ganha não se mexe', e deve querer olhar pra trás, comparar FHC [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB] com Lula.

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