domingo, 11 de abril de 2010

Jarbas praticamente pede para procurarem um nome


JARBAS ABRE O JOGO:
Tá no blog Acerto de Contas.
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A entrevista do Jornal do Commercio de hoje, com o Senador Jarbas Vasconcelos, é uma das melhores que já vi nos jornais. Ao contrário de muitos, que acham que a pessoa deve apertar o entrevistado, o correto é deixá-lo falar. Se tiver sorte de pegar o mesmo em um dia bom, uma grande entrevista sairá, como foi o caso.
A jornalista Cecilia Ramos foi a responsável por esta bela reportagem sobre o Senador Jarbas Vasconcelos, que praticamente pediu para arrumarem outro candidato, quando afirma que não quer nem ser Governador de novo, quanto mais candidato em condições adversas como essa.
Lógico que aparecerão os míopes ideológicos de plantão, raivosos quando a opinião alheia recebe espaço relevante, mas o Senador Jarbas Vasconcelos merece respeito pela sua importância histórica e pela sua trajetória. Respeito inclusive que ele demonstrou por Eduardo Campos e Arraes quando deu esta bela entrevista.
A segunda reportagem, que trata do rompimento entre ele e Arraes está melhor ainda. Pena que não foi transcrita na íntegra, mas é essencial para quem quer entender a política de Pernambuco.
Isso é mostra de que, quando se quer, é possível fazer jornalismo em alto nível.
Segue a entrevista feita por Cecilia Ramos.
JORNAL DO COMMERCIO – O senhor estabeleceu o dia 30 para anunciar se é candidato ou não. Por que um prazo tão longo?
JARBAS VASCONCELOS – Porque preciso desse tempo para que algumas coisas se resolvam. Por exemplo, minha conversa definitiva com José Serra não ocorreu. Tivemos desencontros de agendas. O calendário que eu disse à imprensa e aos aliados é real. Eu me omito de dar entrevista porque não consigo estar na imprensa todo dia, como também não faço política pelos jornais. Não sei gerar factoide.
JC – E quando vai ocorrer a conversa definitiva com Serra?
JARBAS – O mais breve possível. (Aponta no calendário a data marcada no dia 14 e diz que gostaria, inclusive, que a conversa ocorresse antes disso. No dia 15, o filho dele, Jarbinhas, 19 anos, fará cirurgia, no Recife, e o senador acompanhará). Mas eu não vou dizer a ninguém que conversei com Serra, porque senão eu não faço mais nada. Só anuncio no dia 30.
JC – Como será o formato desse anúncio do dia 30?
JARBAS – Não está definido na minha cabeça. Se eu for dizer sim, é um formato. Se for não, é outra coisa. Mas vou comunicar na presença de vocês da imprensa.
JC – O comentário desde que o senhor definiu esse prazo é o de que ninguém marca uma data para anunciar um não.
JARBAS – Discordo. Você marca uma data que pode ser um sim ou não. Se essa data não fizesse sentido, eu não precisava ter conversações, porque eu já teria a resposta.
JC – O que está achando de ser o assunto do momento?
JARBAS – Normal. A gente está num processo de adversidade. Senão era só eu aceitar logo ser candidato ou negar. Muita coisa, inclusive algumas que não posso dizer de público, precisam ser definidas. Ficar em evidência o tempo todo não me deixa vaidoso. Ao contrário. Sou uma pessoa reservada. Você me vê dando entrevista toda hora por aí? Muito menos sobre algo que não tenho a resposta. É a frase que eu lhe disse (pega um recorte de jornal e mostra uma frase de José Serra). Serra diz: “Há disputas que você persegue e há outras que você é convocado”.
JC – E qual sua situação?
JARBAS – Não era uma eleição que eu persegui. Eu não consigo transmitir hoje algo que não seja real. Quando eu falo um negócio daquele (a frase de Serra) é porque não é uma sucessão fácil. A frase é o que eu estou vivendo. Estou sendo convocado. Quando eu quis ser governador, eu persegui. Uma das minhas frases do guia eleitoral, já vai completar 12 anos da primeira vitória (ao governo), eu dizia: “Eu me preparei”. Porque eu achava que era importante a população ouvir isto: ‘Eu me preparei para ser governador do Estado’. Ou seja, eu não sou improvisado. Fui governador ontem. É recente.JC – E agora?
JARBAS – Se tivesse na minha cabeça o projeto de disputar a sucessão com Eduardo Campos eu não tinha nem disputado a eleição para o Senado. Eu ficaria no Estado, para comandar a oposição, mesmo sem mandato. Então o projeto de disputar o governo não estava na minha cabeça. Aí cheguei aqui e me decepcionei com o Senado. Encontrei uma Casa cheia de vícios, distorções, precária.
JC – Sua decepção com o Senado pode ser um fator que o leve a disputar o governo?
JARBAS – Talvez facilite, porque não me sinto confortável aqui (no Senado). Se coloque no meu lugar. Fui perseguido pelo PMDB desde que cheguei. Passei dois anos sem participar de comissões por um capricho de Renan Calheiros (então presidente do Senado). Hoje estou na Comissão de Constituição e Justiça porque Sérgio Guerra (PSDB) me cedeu a vaga dele. E agora nada me incomoda mais do que José Sarney (PMDB) presidindo a Casa como se nada tivesse acontecido.
JC – Sua saída para Brasília deixou a oposição solta…
JARBAS – Eu não sou responsável pela desarticulação da oposição em Pernambuco. Posso não ter trabalhado como deveria. Mas não poderia ser senador atuante e comandar a oposição no Estado. Não adianta mais chorar o leite derramado. A verdade é que não fizemos oposição no Estado. Nem tão pouco a gente procurou se organizar, expandir, ou manter o que já tinha. Eu tomei posse no Senado e Eduardo no governo. E a partir dai houve uma desarticulação. Todos os partidos falharam: PMDB, PSDB, DEM, PPS. Lá em 2007, a gente devia ter promovido encontros conjuntos para passar à população que a gente tinha unidade. Nada disso foi feito e nada disso agora pode ser feito.
JC – O senhor seria candidato ao governo com esta oposição?
JARBAS – Isso é uma das questões que estou discutindo, e se estou é porque eu cogito (ser candidato). Mas é um ambiente em que há ausência, hoje, de espaço para uma candidatura combativa. Mas eu quero dizer que isso tudo são coisas passadas. Não precisa ser nenhum analista político para constatar que a gente vive um período invernoso. Mas também se cresce na adversidade. Basta olhar a história.
JC – O que mais pesa para sua decisão de ser candidato ou não?
JARBAS – É uma decisão minha comigo mesmo (risos). Mas claro que a conversa com Serra é definitiva para minha decisão, porque eu vou sair dela candidato ou não. Sendo ou não candidato eu vou para Pernambuco conversar com Mendonça Filho, Marco Maciel, Sérgio Guerra, Roberto Freire, Raul Jungmann. Para depois anunciar no dia 30. Se sou candidato, porque sou. E se não sou, porque deixei de ser. A agenda está organizada na minha cabeça, mas o conteúdo, não. O conteúdo eu tenho que conversar com Serra.
JC – O senhor enfatiza muito a conversa com Serra. Por que?
JARBAS – Temos uma relação de admiração mútua. Acredito que ele tem chances reais de ser o próximo presidente da República e sei que ele conta comigo. A última vez que nos falamos foi em novembro, em São Paulo, e você publicou no JC, porque você falou com Aristeu (assessor de Jarbas) quando eu saia de lá (da conversa com Serra). Serra me disse que Pernambuco precisa da minha candidatura porque o Estado é importante para ele. Sei que ele vai me dizer isso de novo. E eu vou colocar meus argumentos.
JC – Quais são?
JARBAS – O fato de que não estava nos meus planos disputar o governo é um deles. A estrutura da campanha, a chapa… É preciso ouvir Sérgio Guerra, Marco Maciel. Eles são peças importantes. Sérgio tem dito que será candidato à reeleição. Ele é muito pragmático. Tudo isso precisa ficar claro.JC – O senhor está dizendo que depende deles também?
JARBAS – Estou dizendo o que eu disse. Preciso ouvir Serra e esperar as decisões do conjunto.
JC – Ao longo desta entrevista o senhor pareceu falar como candidato…
JARBAS – (Risos) É porque isso pode acontecer, né? Mas tenho dúvidas e quero esclarecer o mais breve possível.
JC – Alguns governistas e até aliados acreditam que o senhor perdeu o timing para dizer não…
JARBAS – De jeito nenhum! Eu tenho todo o tempo para me decidir. Estou em desvantagem, lutando contra um governador que está usando todos os meios para me derrotar. Cooptando gente da gente.
JC – Mais uma vez o senhor falou como candidato…
JARBAS – (Risos) Então acho que estou absorvendo esse ambiente (de convocação). Eu não decidi. Estou aqui conversando à vontade, de forma transparente sobre o meu sentimento de agora.
JC – Seu raciocínio sugere que se for candidato é por um apelo de Serra, um projeto nacional.
JARBAS – Exatamente. Minha preocupação é pelo País e não de disputar o governo. Estou convencido que Serra ganha a eleição se ele não errar. Então, o que cabe a mim? Eu seria candidato por um projeto nacional.
JC – Comenta-se que o presidente Lula gostava do senhor e tentou aproximação, mas não foi recíproco. Acha que ele participará da campanha de Eduardo com mais gosto se o senhor for candidato, como forma de revidar?
JARBAS – Acho. Eu sou um dos mais ativos opositores dele. E é verdade que Lula gostava mesmo de mim. Sei disso. Mas nada dá o direito de ele fazer o que quer, como se fosse um Deus.
JC – Qual é o seu contato com a presidenciável do PT, Dilma Rousseff?
JARBAS – Nenhum. Estive com ela quando fui governador (2ª gestão). Fui a Brasília para apresentar Suape a ela. Fui eu que falei de Suape para Dilma (então ministra da Casa Civil), sabia? Fizemos uma apresentação sobre os investimentos. Não cheguei lá dizendo que meu governo inventou Suape.
JC – Está se referindo ao governador Eduardo Campos?
JARBAS – Ele dizer que inventou um novo Pernambuco já me incomodou. Mas já me acostumei. Eu tenho um apreço grande por Suape. Me lembro de reuniões, as negociações da refinaria. E naquela época o máximo que eu tinha para oferecer era a minha palavra. A palavra de que eu ia fazer tudo por Suape.
JC – O senhor já disse que se disputar esta eleição contra Eduardo quer uma campanha de comparação entre as duas gestões. Por quê?
JARBAS – Por que aí é que os fatos aparecem. Quem fez e o que fez está registrado. Isso aí a gente vai mostrar agora quando resgatar a história. Isso a gente mostra com fatos, números, imagens.
JC – Pela sua experiência de ter sido o comandante de uma ampla aliança (PMDB/DEM/PSDB/PPS), como avalia a Frente de Esquerda comandada por Eduardo?
JARBAS – Essa frente chegou ao término do primeiro mandato, mas tem data marcada de vencimento porque ninguém tem nada a ver com ninguém. Fernando Bezerra não tem nada a ver com Eduardo Campos. Eduardo não gosta do PT. O PT está dividido e Humberto Costa não tem nada a ver com João Paulo. E João Paulo não tem nada a ver com Armando Monteiro. E assim vai. A minha aliança tinha o mínimo de unidade. Não estou dizendo que a minha tinha unidade de forma ampla. Mas as pessoas não se digladiavam.
JC – O governo espera sua definição para a montagem da chapa governista…
JARBAS – Pois é… Repare só que coisa! (Risos) É um equívoco desse governo me esperar. Esse governo Eduardo se acha tão forte, tão acima de tudo e por que, então, não anuncia a chapa? O normal é a oposição ir atrás do governo. E o quadro em Pernambuco, se a gente analisar os últimos 60 dias, é o governo que está esperando a oposição para poder se decidir. O que eu fico sabendo e tenho lido nos jornais é que se eu for candidato colocam João Paulo (para disputar uma das vagas ao Senado, ao invés de Humberto). Já pensou? Isso é uma coisa inusitada em Pernambuco, porque o governador sempre ditou o que a oposição vai fazer. Ou não é verdade?
JC – Governistas alegam que o senhor sempre deixou para definir suas candidaturas e montagem de chapa em cima dos prazos.
JARBAS – Eu já falei que Dudu pode dizer o que quiser. É uma questão de interpretação.
JC – Pelo histórico no Estado, o governador consegue eleger os senadores. Eduardo elege?
JARBAS – A gente está bem próximo de saber se Dudu consegue eleger ou não. (Risos)
JC – Eduardo tem dito nos discursos que “o povo não tem saudades do passado”, numa referência ao seu governo.
JARBAS – (Risos) Eu tenho saudade de quando fui combatente da ditadura. E sobre isso que Eduardo diz, eu acho que ele ofende a memória do avô dele (o ex-governador Miguel Arraes, falecido em 2005). Porque o avô dele fez política até os 80 anos. O avô que ele evoca e invoca a todo instante. Quando Eduardo faz uma afirmação dessa é como se ele não fosse neto de Miguel Arraes.

Memórias de uma relação conflituosa


Amigos brigam. Amizades terminam. Mas quando os personagens são dois importantes nomes da política de Pernambuco e do Brasil a história começa a ficar mais interessante. Os ex-governadores Miguel Arraes (PSB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) passaram de aliados a inimigos ferrenhos sem sequer terem o direito à última briga presencial e definitiva, de troca de insultos, acusações. Nada. E por essas curiosidades da vida, o motivo teria sido o governador Eduardo Campos (PSB), neto de Arraes. Jarbas, em meio a definições do seu futuro político próximo, que inclusive tem Eduardo, de novo, no destino, contou sua versão para um dos rompimentos políticos mais emblemáticos do Estado.
A versão, diga-se, “casa” com o que o JC já ouviu também pelo outro lado. Os detalhes (que, sim, fazem a diferença) sofrem variações. Mas sobre o mesmo tema: o motivo era pôr ou não Eduardo, então jovem deputado estadual, na chapa de Jarbas a prefeito. Óbvio que anterior a essa celeuma, houve desgaste de lado a lado. “Era uma segunda-feira de setembro de 1992, 17h, quando Dudu foi à minha casa, no Rosarinho. Ele usava uns ternos claros, lembro como se fosse hoje. Tirou e colocou na cadeira. Ai disse que Doutor Arraes e Luciano Siqueira (hoje vereador), que comandava o PCdoB, queriam ele (Eduardo) como vice-prefeito (na chapa de Jarbas). E que não era ele, Dudu, que queria, mas que precisava ouvir minha opinião.”
“Ai eu disse a ele que Doutor Arraes ia ser candidato em 94, e assim foi. E que naquele momento, eu me apresentando como candidato a prefeito do Recife e Dudu como vice, pareceria que ele estava de conchavo. Eu estava botando um neto de Arraes para ser meu vice para eu ficar amarrado e não poder concorrer com Arraes ao governo em 94. E Dudu balançava a cabeça, concordando com todas minhas ponderações. E eu disse: ‘Dudu, você é novo. Está com uma bela atuação na Assembleia, vai dar saltos mais altos…’ E outra coisa, Arraes tem dificuldade (de voto) no Recife. Não ganhava. Como eu ia justificar eu agarrado com o neto dele? E Dudu concordou. Só que eu soube que depois que ele saiu lá de casa e seguiu para a casa do avô, em Casa Forte, e disse que eu vetei ele. Pronto. Foi a desgraceira. Dali em diante não falei mais com Dudu. E a relação com Arraes ficou péssima de 92 até ele falecer em 2005”.
A reflexão que Jarbas fez do episódio é o de que não sente “orgulho” disso. “Foi muito ruim, guardo lembranças surreais, como quando eu ganhei para Arraes no governo e ele não foi transmitir o cargo e não botou ninguém, ficou lá o Palácio abandonado. Ou quando ele não me cumprimentava. Ora, eu, prefeito, e ele governador (1985), a gente almoçava no Palácio toda quinta. Ele mandava fazer um cabrito para mim. Doutor Arraes tinha muita sensibilidade.”
Jarbas, então deputado federal, conta que viajou até Paris em 1977, para conhecer Arraes, a convite do próprio, que estava exilado na Argélia. A partir daí, começou a relação de admiração mútua, porém conflituosa. Jarbas organizou o comício que marcou o retorno de Arraes do exílio, em 1979. “Duas coisas me marcaram em Arraes, antes de eu conhecê-lo pessoalmente: o que o governo dele fez na Zona da Mata, de cumprir a lei federal para pagar salário ao trabalhador rural, e a saída de Arraes do Palácio, preso em abril de 1964. Arraes caiu com extraordinária dignidade. Muitos ali teriam intransigido.”
Jarbas diz que Arraes sempre teve um “pé atrás” com ele. “Arraes dava uma dimensão muito grande essa coisa de espaço político. Eduardo herdou.” Jarbas disse ter convivido “muito pouco” com Eduardo. “Quantos anos Dudu tem?”. Informado que era 44, fez as contas. Jarbas tem 67 e ambos aniversariam em agosto. “São 23 anos de diferença entre ele e eu. E de mim para Arraes, 27 anos, mas éramos de outra geração.” Os caminhos de Jarbas e Eduardo, porém, sempre se cruzaram. Na gestão Jarbas na prefeitura, em 1985, o hoje governador foi oficial de gabinete do então secretário de Governo, Fernando Correia (conselheiro do TCE). “Eu vim conhecer Dudu, quem ele era mesmo, em 92 (ano da briga).”
Por conta desse histórico, há implícito que a disputa de outubro pode ser um “acerto de contas”, caso Jarbas seja o candidato. A chance de Eduardo dar um troco à campanha ao governo em 1998. “Eu ganhei para Arraes com 1 milhão e 80 mil votos de diferença. Tive no Recife 400 mil votos e Arraes 80 mil. E ganhei no interior por 200 e poucos mil votos. Foi uma campanha bonita”, relembra Jarbas, com a votação de cor. Indagado se acha, então, que esta eleição pode ter gosto de revanche, Jarbas fez um silêncio, mas depois disse: “Não sei. E o que Dudu acha disso eu também não sei. Não me importa”.

Autor: Pierre Lucena - 11/04/10 às 11:25

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